Se você navegou pelas redes sociais nestes últimos dois ou três anos (afinal, em tempos de isolamento social, as telas dos smartphones acabaram se tornando as nossas janelas para o mundo), é muito provável que tenha visto anúncios, stories e websites apregoando cursos, mentorias, aulões, semanas do sucesso, coaches (tanto os verdadeiros quanto os “coaches quânticos”) e outras ofertas parecidas. 

Na área da tradução as coisas ficam um pouco mais confusas. Vemos desde ofertas de cursos e conteúdo sério, como instituições focadas na formação de tradutores e educação continuada, quanto ofertas milagrosas que dizem que é possível se tornar tradutor sem nenhum conhecimento ou formação além de saber uma segunda língua — ou enfatizando o suposto “glamour” da profissão e dizendo que o tradutor pode trabalhar na praia ou no sofá de casa, legendando suas séries e filmes favoritos.

Se o seu detector de ciladas ainda não começou a apitar, é melhor trocar as pilhas dele!

O foco deste artigo, entretanto, não é falar dessas falsas promessas ou dos picaretas que atuam no mercado. A conversa de hoje é sobre as diferenças que existem entre quatro profissionais: o mentor, o professor, o tutor e o coach, assim como o que cada um deles pode fazer por você e pela sua carreira. 

Os professores

Provavelmente esses foram os primeiros profissionais com os que tivemos contato na vida, desde as professoras do período pré-escolar até aquelas que atuam no ensino superior e programas de pós-graduação. Professores são os responsáveis por transmitir informação sobre grandes áreas do conhecimento como linguística, sociologia, cálculo e línguas, entre várias outras. E também podem instruir seus alunos em campos um pouco mais restritos, mas nem por isso menos importantes.

Na área da tradução, há excelentes professores e professoras que ministram aulas e cursos sobre os mais variados aspectos da carreira: tradução audiovisual, tradução literária, tradução e versão de textos da área da saúde e das ciências, CAT Tools, localização de jogos digitais e analógicos, etc. O foco dos professores é capacitar as pessoas para atuarem de maneira independente e com sucesso na sua vida acadêmica e/ou profissional.


Os tutores

Um termo que está começando a se popularizar mais recentemente é a tutoria. Muitas vezes o termo é usado apenas como um sinônimo para “curso” ou “aula” (afinal, os algoritmos têm que ser alimentados, certo?) Embora os processos de tutoria tenham alguns elementos em comum com as aulas, o foco é diferente

Uma boa maneira de entender a diferença é pensar nos vários tutoriais que estão disponíveis em plataformas como o Youtube, Instagram ou outros websites. Enquanto uma aula ou um curso versa sobre áreas relativamente amplas do conhecimento, uma tutoria envolve orientar e supervisionar um tutorado durante a execução de um projeto específico

Assim, podemos entender melhor a diferença entre cursos e tutorias da seguinte maneira: um curso vai falar sobre tradução literária ou tradução para legendagem, por exemplo. Em uma tutoria, o tutor vai demonstrar os processos e acompanhar o aluno durante a tradução de um conto, da legendagem de algum episódio de um seriado ou na execução de um processo de pré-tradução em uma CAT Tool. O foco da tutoria é bem mais específico, com instruções dadas passo-a-passo e acompanhamento ao longo de um determinado projeto.


Os mentores

Outro termo que ganhou bastante popularidade nestes últimos anos foi a mentoria

E se esse foi o primeiro Mentor que você conheceu, está na hora de ir tomar a quarta dose da vacina da Covid-19!

O problema, entretanto, é que tem muita gente usando o termo “mentoria” para se referir a cursos, aulas e outros processos que não são mentorias. Às vezes isso acontece por desinformação; outras vezes, por má-fé mesmo (já que “mentoria” é um termo supostamente mais “chique” e com maior valor agregado do que “curso”). Hora de desmistificar a questão.

Para ter uma noção melhor do que é um mentor, além das coisas que essa figura faz (e também o que ela não faz), vamos buscar algumas referências de mentores clássicos no cinema.

Primeiramente, é importante diferenciar as figuras do mentor e do professor. O mentor não dá aulas, não tira dúvidas sobre áreas do conhecimento e também não procura (e nem oferece) oportunidades de emprego para o mentorado, A orientação dada pelo mentor está relacionada à carreira, às práticas do mercado, às possíveis armadilhas e percalços que podem acontecer pelo caminho, etc. Note que, nos filmes retratados acima, os mentores dos raramente ensinam conteúdos práticos para os seus mentorados; a orientação consiste em ser a voz da experiência, em ajudar o mentorado a se tornar um profissional cada vez melhor e colaborar sem se impor ou tomar as rédeas do processo.

O mentorado, por sua vez, também é uma figura diferente do aluno. Em um bom processo de mentoria, o mentorado define as metas que deseja alcançar na carreira, enquanto o mentor o orienta ao longo do caminho — sem tratá-lo como um aluno ou um estagiário, nem passar “tarefas” que precisem ser corrigidas posteriormente ou definir metas para o mentorado. Em uma mentoria, quem define metas é o profissional que está recebendo a mentoria. 

Um mentor até pode ter mais de um mentorado, mas as sessões de mentoria nunca acontecem em grupo. As necessidades de cada mentorado são muito específicas, pois é ele que define seus próprios objetivos na carreira.


Os coaches… do bem e do mal

“Coach” é um termo que ganhou uma reputação bem negativa no Brasil em tempos recentes. Várias pessoas, ao decidirem ganhar a vida com sessões de aconselhamento ou consultoria sem o mínimo embasamento teórico decidiram se intitular como “coaches” e alardeiam seus serviços por redes sociais. O termo “coach”, por não ter uma definição precisa em português, acaba sendo usado por essas pessoas que se julgam no direito de dar palpites sobre dietas, exercícios físicos, uso (ou interrupção de uso) de medicamentos, administração de empresas e praticamente qualquer outra área do conhecimento que requeira estudo e um diploma reconhecido. 

A questão é tão séria que alguns “coaches” autointitulados já colocaram a vida de outras pessoas em risco, como o caso recente em que um deles decidiu levar um grupo de pessoas em uma excursão à Serra da Mantiqueira durante uma época em que todas as condições eram adversas, arriscando a vida de todos os envolvidos. Foi necessário acionar os bombeiros para evitar uma tragédia. Você pode conferir os detalhes dessa história clicando neste link

A cidade de Kassel, na Alemanha, tem este monumento dedicado aos coaches quânticos.

Existem coaches sérios? Existem, sim; perceba que não usamos aspas para falar dos profissionais sérios neste texto. O verdadeiro coach, a rigor, é alguém capaz de orientar seu cliente para promover o desenvolvimento pessoal ou profissional. 

Não deveria ser necessário dizer que coaches sérios, além de experiência comprovada em suas respectivas áreas, também devem seu conhecimento respaldado por diplomas e outras certificações. Grande parte desses profissionais (os coaches sérios, não os “coaches” quânticos) têm formação em psicologia, administração de empresas (muitas vezes com ênfase em recursos humanos) ou em áreas similares, podendo até mesmo terem graduações ou especializações nas carreiras para as quais oferecem orientação. 

E então, que tipo de orientação devemos escolher? Você precisa de um professor, um tutor, um mentor ou um coach? Tomara que este artigo tenha ajudado a esclarecer. E, claro, se a sua intenção é investir na sua educação continuada, venha conferir as palestras e todo o conteúdo disponível para os assinantes Premium da Translators101.

Palestras exclusivas para Assinantes Premium:


— Ivar Jr e Luciana Boldorini, Rook tradução.

Para saber mais sobre diversas perguntas que recebemos sobre as áreas de tradução, interpretação e revisão, leia este post.

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