A pandemia da covid-19 chegou e causou uma reviravolta enorme em vários mercados por todo mundo, e a tradução não escapou dessas mudanças. Algumas das áreas tiveram diminuição de demanda, mas tradutores com outras especializações ou que atuam em mercados diferentes perceberam que a oferta de trabalhos até aumentou. Uma boa aposta nesse tipo de situação é a diversificação dos serviços oferecidos: profissionais capazes de atuar em áreas diferentes e que prestam serviços para clientes de áreas diferentes têm mais oportunidades para se esquivarem das pedradas em épocas de crise.

Já dizia aquele ditado sobre não colocar todos os ovos na mesma cesta

Assim, que tal analisar outras possibilidades de trabalho? Não temos a intenção de esgotar o assunto neste artigo, mas é possível explorar opções na própria área da tradução ou buscar oportunidades em áreas afins.

 

Área da Saúde — A Tradução Médica

Embora a pandemia tenha virado o mundo de cabeça para baixo e provocado mudanças profundas como o advento dos hábitos de distanciamento social, lockdowns e o uso de máscaras, entre outras medidas protetivas, a área da saúde foi uma das que apresentou maior produção de textos (e, consequentemente, de traduções) nestes últimos anos. Tradutores que trabalham com a área da saúde têm como clientes empresas privadas e também públicas — geralmente na forma de departamentos de pesquisa em universidades ou periódicos que publicam artigos científicos em diferentes idiomas. Entre os clientes privados, há centros de pesquisa internacionais, laboratórios farmacêuticos e publicações/websites especializados em saúde. Estas podem atender a um público de profissionais da saúde ou serem veículos especializados em divulgação científica, adaptando textos mais técnicos para serem consumidos e compreendidos pela população em geral — um antídoto para as fake news e o negacionismo que, infelizmente, também vêm crescendo em tempos recentes.

E é importante lembrar que há uma boa demanda por intérpretes na área de saúde, também. Mas vamos deixar para falar dos colegas das cabines um pouco mais adiante.

O que é necessário: Além de afinidade pela área, ter conhecimento de alguma CAT Tool ajuda bastante na produtividade, já que os prazos de trabalho não costumam ser muito elásticos. Acesso a bons glossários e materiais de consulta também. E, claro, cursos específicos para tradução na área de saúde.

Aqui mesmo, no blog da Translators 101, há um artigo assinado pela Profa. Luciana Bonancio com uma explicação mais ampla sobre o mercado da tradução de saúde e como os tradutores podem acessá-lo. Para ler o artigo, é só clicar neste link.

Sugestões para assinantes premium:

S04E22 | SUA AMIGA, A TRADUÇÃO AUTOMÁTICA, com Silvio Picinini.

S04E13 | A IMPORTÂNCIA DAS FERRAMENTAS DIGITAIS PARA A TRADUÇÃO, com Valter Mendes Jr.

ESPECIAL #ITD 2020 | TRADUÇÃO CIENTÍFICA: TRAJETÓRIA, ESPECIALIZAÇÃO E PECULIARIDADES, com Laurieny e Marina.

A localização de jogos — mais do que apenas trabalhar com um passatempo.

Mesmo que alguns colegas tradutores ainda considerem a área de localização de jogos como algo distante ou “coisa do futuro”, a verdade é que essa é uma área que começou a ganhar importância na década de 1990. É um setor que vem crescendo ano a ano conforme os desenvolvedores e distribuidores buscam ampliar seus mercados, levando seus jogos a um público cada vez maior; em outras épocas, não era raro que os jogadores não conseguissem aproveitar plenamente da experiência do jogo, usando uma versão não-localizada.

Com a popularização e disseminação de aparelhos eletrônicos, especialmente os celulares e tablets, os jogos não ficam mais restritos a aparelhos mais caros como videogames e computadores. O mercado mundial de jogos eletrônicos movimentou, só em 2020, um total de US$ 126,6 bilhões de dólares, cerca de 12% a mais do que no ano anterior. Os dados estão num estudo da SuperData, entidade afiliada à Nielsen, e podem ser consultados neste artigo do site Canaltech.

Esse forte crescimento ocorreu especialmente devido aos lockdowns e outras medidas protetivas que foram adotadas por vários países em 2020. A demanda por opções de entretenimento caseiro aumentou bastante durante esse período e os jogos digitais são um dos setores que mais se beneficiou da situação. E o mais interessante: segundo a análise do Superdata/Nielsen, o maior filão de jogos digitais é justamente o de games para dispositivos móveis, que representaram 58% do total — ou US$ 73,8 bilhões. Até o momento não há sinais de que essa situação venha a ser revertida.

O que isso representa para nós, tradutores? Há muitos desenvolvedores despejando novos jogos no mercado e tentando abocanhar uma fatia desses mais de 70 bilhões de dólares. Assim, o ideal é poderem disponibilizar seus produtos em diversos mercados ao redor do planeta — e o mercado brasileiro vem se destacando como um dos mais promissores. De alguns anos para cá é cada vez mais raro encontrar algum game popular que não esteja localizado em português brasileiro. E aqui, especialmente, incluímos os jogos para plataformas móveis. Como são projetos menores e menos ambiciosos do que os grandes jogos do tipo “AAA” (franquias como Assassin’s CreedThe WitcherDays Gone ou Grand Theft Auto, entre outras), é mais fácil encontrar oportunidades e participar de projetos que vão rechear o seu portfólio e trazer mais experiência nesta área.

O que é necessário: Saber usar alguma CAT Tool é essencial (a CAT específica pode variar conforme o cliente). Ser conhecedor e consumidor de games, mesmo que de maneira casual, também ajuda bastante a conhecer o jargão da área, especialmente considerando que alguns termos podem (ou não) precisar ser localizados em português.

Sugestões para assinantes premium:

S03E24 | AMA (ASK ME ANYTHING) SOBRE LOCALIZAÇÃO DE JOGOS! Com Paula Ianelli.

S03E18 | TRADUÇÃO DE VIDEOGAMES: O PONTO DE VISTA DO TRADUTOR, com Michel Teixeira.

S03E10 | TRADUÇÃO DE GAMES? É MUITO SIMPLES! #SQN, com Val Ivonica.

Interpretação simultânea: uma das grandes surpresas

Uma das grandes preocupações que a pandemia trouxe foi o fim dos grandes eventos, congressos e conferências presenciais. O setor de eventos levou um nocaute de proporções mundiais; muitos espaços de eventos e salões de congresso amargaram longos períodos de inatividade e portas fechadas, o que causou problemas e perda de receitas para grande parte da cadeia de profissionais do setor.

Por outro lado, os lockdowns na fase inicial da pandemia criaram uma demanda enorme por ferramentas de comunicação em grupos, e isso resultou no desenvolvimento e aperfeiçoamento acelerado de ferramentas como o Zoom, Google Meet, Webex e outras no primeiro semestre de 2020. E isso acabou possibilitando que congressos, reuniões e conferências ocorressem de forma virtual, por meio dessas e de outras plataformas.

​Talvez esta imagem seja uma das que melhor represente o “novo normal”.

Pausa para um rápido exercício, direto do túnel do tempo. De quantas videoconferências ou cursos/palestras online você participava até o início de 2020? Quantas pessoas tinham o Zoom instalado no computador ou no celular antes de 2020? E depois?

Embora as plataformas de videoconferência não tenham resolvido o problema de boa parte dos profissionais do setor de eventos, elas permitiram que muitos colegas intérpretes se recuperassem do baque bem antes do fim da pandemia. Essas plataformas vêm implementando funcionalidades que permitem que a interpretação de cursos, palestras ou reuniões seja feita de forma remota e segura, seguindo os protocolos de distanciamento social. Tivemos a oportunidade de ver isso funcionando no 11.º congresso internacional da Abrates, nos dias 9, 10 e 11 de julho de 2021. Nas salas virtuais do congresso era possível escolher entre diferentes canais de áudio: a voz original do palestrante ou os canais onde as duplas de intérpretes estavam a postos para fazer a interpretação do conteúdo.

(Aliás, aproveitamos o espaço para agradecer aos intérpretes Felipe Pazello e Amanda Falconi, que interpretaram a nossa palestra sobre tradução de jogos de tabuleiro no congresso da Abrates! Valeu mesmo, pessoal!)

Assim, se você está considerando a possibilidade de explorar outra área profissional, por que não aproveitar e entrar para a turma das cabines?

O que é necessário: Se você vai prestar os serviços de interpretação na sua própria casa, é muito importante ter uma boa conexão com a internet com boa taxa de upload. Além disso, é importante investir em equipamentos de áudio profissionais para que a sua interpretação chegue aos participantes das reuniões e conferências com a melhor qualidade.

Sugestões para assinantes premium:

S04E04 | O SKILL SET DO INTÉRPRETE, com Marcelle Castro.

S03E21 | COMO CONCILIAR AS CARREIRAS DE TRADUTOR E INTÉRPRETE, com Marsel de Souza.

S03E07 | INTERPRETAÇÃO NO OSCAR, com Anna Vianna.

Produção de textos — desbravando novos caminhos.

E temos também a opção de pensar fora da caixa da tradução — ou, pelo menos, de pensar em caminhos paralelos do trabalho com palavras. Algumas das áreas nas quais os tradutores podem atuar são a produção de conteúdo em textos e a revisão textual — e cada uma se subdivide em algumas trilhas mais especializadas também.

A revisão de textos é uma área que anda de mãos dadas com a tradução pela sua própria natureza, ajudando a lapidar ainda mais um texto e proporcionando um segundo (e às vezes também um terceiro) olhar sobre uma tradução, especialmente quando se almeja a qualidade. E é também uma maneira de conhecer o processo de trabalho em áreas diferentes daquelas em que estamos acostumados a trabalhar: os revisores podem encontrar oportunidades nas áreas técnicas, na área literária (e aqui a gama de funções também se expande, indo desde a revisão focada unicamente na ortografia até a preparação de textos/copidesque, um processo mais amplo e com maior liberdade para fazer intervenções no texto), nas legendas para filmes e vídeos e outros.

Já que somos profissionais do texto, por que não considerar a possibilidade de produzir textos? Embora as mídias sociais venham enfatizando cada vez mais conteúdos em forma de imagem, gráficos e vídeos nos últimos anos, existe também uma demanda considerável por profissionais capazes de produzir bons textos. Conteúdo para websitesblogs e newsletters, textos informativos e também o “copy” (textos que são usados em estratégias de marketing digital, mais persuasivos, com estratégias próprias para converter um leitor em cliente).

O que é necessário: Para trabalhar com a revisão/preparação/copidesque, além de um excelente domínio da língua, é bom contar com materiais de referência como gramáticas, manuais de redação e estilo, dicionários e também o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa). Para quem pretende se aventurar pela produção de conteúdo em texto, esse material com certeza também ajuda muito, mas é interessante aprender um pouco sobre estratégias de SEO (Search Engine Optimization) para textos online, além de técnicas de copywriting, redação jornalística e também publicitária, dependendo do campo onde se pretende atuar. Se, além de escrever/revisar, você também for encarregado de publicar esses textos nos sites ou redes sociais dos seus clientes, é preciso conhecer plataformas de CMS (Content Management System) como WordPress ou Joomla e também os mecanismos de divulgação e impulsionamento das mídias sociais.

Sugestões para assinantes premium:

S04E27 | QUEM ESTÁ CERTO? A ETERNA BATALHA ENTRE REVISÃO E TRADUÇÃO, com Fabiana Zardo.

S03E40 | O PAPEL DA REVISÃO NA TRADUÇÃO, com Beatriz Santana.

S04E05 | AFINAL, O QUE É GRAMÁTICA? Com Amanda Moura.

 

— Luciana Boldorini e Ivar Jr., Equipe Rook Tradução.

Para saber mais sobre diversas perguntas que recebemos sobre as áreas de tradução, interpretação e revisão, leia este post.

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