Texto de Carolina Caires Coelho para o blog Ponte de letras.

Caminante, son tus huellas

el camino y nada más;

Caminante, no hay camino,

se hace camino al andar.

Al andar se hace el camino,

y al volver la vista atrás

se ve la senda que nunca

se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino

sino estelas en la mar.

Antonio Machado, 1875-1939

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Um dos poemas mais simples e bonitos que conheço foi publicado na obra Proverbios y cantares, uma compilação de textos sobre os mistérios da vida para os homens. No poema, Machado faz referências ao “caminho”, à vida.

Nele, entendo que a mensagem é de que a vida se faz de acordo com os passos dados, não exatamente seguindo um curso tomado por outra pessoa. Que observamos as marcas deixadas por outros caminhantes, mas que a nossa história depende só das nossas próprias marcas. E que o que foi vivido vai ficando para trás, pode ser relembrado, mas nunca revivido.

As interpretações são muito pessoais, claro, mas o fato é que esse poema acabou sendo uma boa introdução para o meu texto de hoje.

Quero falar sobre o caminho, sim, mas muito mais sobre as mudanças no modo de caminhar. Você já mudou o seu? Já passou muito tempo caminhando sem perceber nenhum avanço? Já parou para descansar um pouco e reavaliar a velocidade e a determinação com que caminha? Ou foi parado em algum momento, mesmo sem querer, mesmo quando achava que estava numa cadência legal? Já tropeçou muito a ponto de se sentar na terra e, desanimado, perguntar o que a vida estava tentando mostrar? Ou já pisou nos próprios cadarços, caiu com tudo no chão e percebeu claramente o que a vida estava esfregando na sua cara?
Seja como for, uma reavaliação do modo de caminhar sempre acaba trazendo lições.

Parada forçada ou voluntária, não importa. Acontece como tem que acontecer, do jeito que precisamos aprender. Às vezes de um modo mais brusco, às vezes mais suave, a verdade é que tudo vem quando a gente precisa. Até os tombos.

Tenho analisado meu ritmo e minha pisada ultimamente, em muitas áreas da vida, por vontade própria e também forçada. Tenho até a impressão, em alguns momentos, de que essa análise está sendo cobrada de mim em quase todos os dias de 2016. Se não avalio, tropeço. Já me irritei bastante, já questionei o meu caminhar e já comparei o meu com o dos outros. Inútil. A única coisa que me leva a novas paisagens é aceitar e, com a aceitação, melhorar e agradecer. Não estou escolada nisso ainda, não. Ainda peno, ainda fico presa pelo caminho, ainda carrego umas pedras porque prefiro aguentar o peso a jogá-las pra lá e acabar tropeçando nelas de novo mais pra frente. Algumas eu solto e consigo deixar pra trás. Outras eu solto e não vejo mais, fico com a sensação de que vou vê-las mais adiante.

Resta saber se virão novos tropeços e tombos ou se vou estar mais esperta para conseguir desviar delas, superá-las.

Pelo caminho, vou vendo umas paisagens bonitas, outras bem feias. Tem chuva, tem sol, tem vento, tem neve, tem buraco. Tem gente rastejando, rolando, pulando, correndo, mancando (oi, Érika Lessa #interna). Tem quem estique a perna pra derrubar o outro, tem quem jogue terra nos olhos das pessoas, tem quem se deite no chão para outros passarem por cima, tem quem grite aos quatro ventos que anda e ainda rebola, tem quem repare, critique ou copie o passo dos outros. Tem quem não olhe para o lado, preocupado só com os próprios passos. Tem de tudo.

Tudo isso pra dizer que às vezes a gente precisa se reavaliar, repensar a rotina, o modo de trabalho, as relações com a família e com os amigos, o casamento, o rumo profissional. Sempre dá pra mudar, sempre dá pra melhorar, nada precisa ficar como está só porque está no caminho batido de sempre. Tudo evolui e assim avançamos. Negar essa evolução é tornar-se estanque. Pior: negar é meio como cavar um buraco que só cresce e nos engole. Fica difícil sair. Então, o único jeito é colocar um pé na frente do outro.

O bom é que existem outros caminhantes que aceitam dividir a caminhada com a gente. Que buscam nossa ajuda e que oferecem a mão quando o terreno está muito acidentado. E às vezes, mesmo sem querer, andamos e acabamos atrapalhando o caminho do outro. E desde que estejamos dispostos a reconhecer que atrapalhamos e a mudar o passo, tudo bem. Muitas pessoas entendem que essas coisas fazem parte da jornada e, por pior que sejam quando acontecem, ensinam muito. Quem não entende, vai parar de caminhar do nosso lado. Pode ser um trecho difícil de vencer, mas a gente se adapta também. Porque tem que ser assim.

Os passos nos afastam de tudo, das coisas boas e ruins. Mas as lembranças das boas são energia para seguirmos em frente. E como o jeito é andar, que a gente saiba escolher como vai ser. Como você tem andado? 

— Carolina Caires Coelho

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